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Varejo mostra resiliência em abril, mas crédito escasso e endividamento indicam desaceleração, dizem analistas

14, junho 2023
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Atividades do comércio que abrangem bens de maior valor devem sofrer os efeitos da política monetária ainda restritiva

As vendas no varejo referentes a abril divulgadas nesta quarta-feira pelo IBGE, que mostram uma ligeira alta de 0,1% na comparação mensal e de 0,5% na interanual no conceito restrito, comprovam que o consumo ainda apresenta alguma resiliência neste início de 2023, mas segundo analistas o resultado já aponta sinais de desaceleração, especialmente no comércio de bens de maior valor, que dependem do crédito.

Uma prova disso é que a leitura ampliada do indicador, que inclui atividade como veículos, partes e peças, materiais de construção e – mais recentemente – o atacarejo, teve queda de 1,6% no mês.

Os economistas Marco Caruso e Igor Cadilhac, do Banco Original, destacaram em seus comentários os resultados positivos em abril de atividades como Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (+3,2%), Livros, jornais, revistas e papelaria (+1,0%) e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (+0,3%). O primeiro grupo, que representa o maior peso do indicador, foi impulsionado pelas vendas da Páscoa.

No campo negativo, o destaque foi dos setores de Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-7,2%) e Tecidos, vestuário e calçados (-3,7%).

Com relação ao varejo ampliado, eles citaram a contribuição negativa do grupo de veículos, motocicletas, partes e peças, que recuou 5,9% em abril. Também exerceu pressão a queda de 0,8% de Materiais de construção.

“Esse movimento era esperado pela análise dos indicadores coincidentes de alta frequência, que sofreram com o ambiente de instabilidade econômica agravado pelo aumento no desemprego e pela lenta recuperação da massa salarial em abril”, disseram os economistas do Original

Para os meses à frente, a previsão de Caruso e Cadilhac é que o encarecimento do crédito e o alto comprometimento de renda das famílias deve pesar sobre os itens de maior valor agregado.

Por outro lado, o mercado de trabalho resiliente em um ambiente de arrefecimento da inflação e transferências de renda por parte do governo devem sustentar o varejo restrito. “Para 2023 projetamos uma alta de 0,9% no comércio restrito e de 0,7% no comércio ampliado”, estimaram.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, afirma que prefere focar a análise nos resultados do varejo ampliado, que tende a acompanhar melhor o comportamento dos componentes do Produto Interno Bruto (PIB). “Mesmo levando em conta a queda registrada em abril, os últimos meses mostram uma certa resiliência do comércio”, comentou.

Ela também disse acreditar que os efeitos da política monetária mais restritiva devem continuar a trazer impacto no apetite de consumo. “Mantemos nossa projeção de desaceleração à frente, já que os juros altos e a desaceleração da economia global devem continuar impactando o desempenho do varejo, especialmente os segmentos sensíveis a crédito”, afirmou.

Claudia também viu como destaque positivo no mês o segmento de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que expandiu 3,2% em abril após ficar estável em março. Mas alertou que a maioria dos demais componentes do varejo ampliado registrou retração, caso dos combustíveis e lubrificantes (-1,9%), tecidos, vestuário e calçados (-3,7%) e móveis e eletrodomésticos (-0,5%).

Para o Goldman Sachs, é preciso ponderar que a queda do varejo ampliado teve uma dose de retorno pelo resultado positivo surpreendente de março, além de as impressões mensais do indicador estarem apresentando muita volatilidade após as mudanças de metodologia na PMC.

Mas o relatório assinado por Alberto Ramos destaca que as vendas varejistas vão sofrer impactos de duas forças contrárias nos próximos meses. Por um lado, a atividade deve se beneficiar dos estímulos fiscais para as famílias, da expansão da renda real do trabalho, da redução da inflação e da robusta renda agrícola.

Do outro lado, espera-se o enfraquecimento do impulso da reabertura econômica, condições monetárias e financeiras domésticas apertadas, altos níveis de endividamento das famílias, baixos níveis de ociosidade econômica, confiança fraca do consumidor e das empresas e uma reviravolta no ciclo de crédito.

No Santander Brasil, o analista Gabriel Couto destacou que sete em cada dez atividades do varejo recuaram na margem em abril. “No geral, foi um desempenho negativo para o varejo em abril. O índice amplo teve uma queda importante, que compensou parte dos ganhos recentes, logo após o fraco desempenho das vendas de veículos. Olhando para o futuro, esperamos que a atividade de varejo indique uma tendência de desempenho morno”, afirmou.

A partir dos resultados fracos do varejo ampliado de hoje, banco revisou para baixo seu tracking do IBC-Br de abril para uma alta mensal de +0,4%, ante projeção anterior de +0,6%.

“Continuamos vendo sinais de desaceleração para a atividade ampla à frente, já que segmentos mais cíclicos indicam uma tendência contínua de desaceleração devido a condições financeiras altamente restritivas. Além disso, esperamos que o impacto positivo da safra recorde de verão se limite ao 1º trimestre e ao início do 2º trimestre”, comentou.

A avaliação do Bradesco foi que os setores do varejo mais correlacionado ao crédito registraram queda de 0,6%, enquanto os mais ligados à renda caíram 3,0%, vindo de uma forte alta de 9,8% em março. “O resultado contribui para expectativas de desaceleração do PIB no 2º trimestre, mas com dinâmica ainda positiva do consumo das famílias. Com os resultados da PMC, não alteramos nossa projeção do PIB, que deve crescer 2,1% neste ano”, disse o banco em relatório.

Fonte: InfoMoney