Vaca louca: após surto no Reino Unido, doença ficou conhecida nos anos 80 e 90; relembre
23, fevereiro 2023
Um caso foi confirmado em fazenda no interior do Pará. Ministério da Agricultura suspendeu exportação de carne para a China. Leite produzido por vacas A2A2 não causam desconforto digestivo.
Fabiana Assis/G1
Você sabe o que é “mal da vaca louca”? O nome pode não ser tão popular agora, mas ficou conhecido mundialmente após o surto da doença entre as décadas de 80 e 90, no Reino Unido. A epidemia tornava os animais perigosos, daí seu nome, e também assustava porque podia haver contaminação de humanos.
O tema ganhou destaque após o governo confirmar um caso no Pará e o Ministério da Agricultura ter suspendido exportações de carne para a China nesta quarta-feira (22).
“Seguindo o protocolo sanitário oficial, as exportações para a China serão temporariamente suspensas a partir desta quinta-feira (23). No entanto, o diálogo com as autoridades está sendo intensificado para demonstrar todas as informações e o pronto restabelecimento do comércio da carne brasileira”, diz o texto do ministério.
Segundo a Adepará, o caso ocorreu em uma pequena localidade do sudeste do Pará, que tem 160 cabeças de gado. O governo do Pará informou que a “sintomatologia indica que se trata da forma atípica da doença, que surge espontaneamente na natureza, não causando risco de disseminação ao rebanho e ao ser humano”.
O local já foi isolado e a propriedade foi inspecionada e interditada preventivamente, informou a Agência.
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As ocorrências mais recentes de mal da “vaca louca” foram confirmadas em setembro de 2021 pelo Ministério. Tinham sido casos em frigoríficos de Belo Horizonte (MG) e Nova Canaã do Norte (MT).
Em 20 anos de monitoramento da doença, o país nunca identificou a forma mais tradicional, que é quando o animal é contaminado por causa de sua alimentação, diz Vanessa Felipe de Souza Médica-Veterinária, Virologista, Pesquisadora da Embrapa Gado de Corte.
O Brasil possui status sanitário de risco insignificante para a doença, desde 2013, na OIE.
O surto nos anos 80 e 90
O primeiro grande surto da doença teve seu auge entre 1992 e 1993, quando foram confirmados quase 100 mil casos no Reino Unido. Estima-se que 180 mil cabeças de gado tenham sido afetadas e mais de 4 milhões de animais foram sacrificados na época.
Durante este período, o consumo de carne bovina ficou, inclusive, proibido naquele país.
Relembre a crise em reportagem da época:
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O que é a doença da vaca louca?
A enfermidade é fatal e acomete bovinos adultos de idade mais avançada, provocando a degeneração do sistema nervoso. Como consequência, uma vaca que, a princípio, era calma e de fácil manejo, por exemplo, se torna agressiva, daí o apelido do distúrbio.
A encefalopatia espongiforme bovina, nome científico da doença, é gerada por uma proteína infecciosa chamada príon. O príon já é presente no cérebro de vários mamíferos naturalmente, inclusive no ser humano, contudo, ele pode se tornar patogênico ao adotar uma forma anormal e se multiplicar demasiadamente.
Quando isso acontece, o príon mata os neurônios e no lugar ficam buracos brancos no cérebro, por isso o nome da doença de “espongiforme”, já que os buracos têm a forma semelhante a de uma esponja. Veja abaixo.
O príon doente mata os neurônios, deixando buracos brancos no local, semelhantes a uma esponja.
Reprodução / Globo Rural
Como a vaca é contaminada?
Existem duas formas principais para o animal adquirir a doença:
caso de origem atípica: nele, naturalmente, o príon sofre uma mutação, se tornando infeccioso. Quanto mais velho o animal, maior a probabilidade disto acontecer;
contaminação: por meio do consumo de rações feitas com proteína animal contaminada, como por exemplo, farinha de carne e ossos de outras espécies. No Brasil, é proibido o uso deste tipo de ingrediente na fabricação de ração para bovinos.
Não há indícios de que uma vaca transmita a doença para a outra, mas, caso ela seja diagnosticada com o mal, o produtor deve colocá-la para o abate e incinerar o corpo, a fim de evitar que se torne alimento para alguma espécie, explica Vanessa.
O criador também deve avisar o serviço oficial de defesa sanitária.
Quais os principais sintomas?
A doença da vaca louca tem uma evolução longa, na qual o animal apresenta sintomas neurológicos, como:
nervosismo;
apreensão;
medo;
ranger dos dentes;
hipersensibilidade ao som, toque e luz;
ataxia, ou seja, dificuldade para andar.
Estes sintomas podem ser confundidos com outras enfermidades que afetam o Sistema Nervoso Central, como raiva, intoxicações, poliencefalomalácia, herpes vírus bovino, entre outras. Por isso, é importante a sua comprovação por meio de diagnóstico laboratorial.
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Dá para tratar?
Não existe um tratamento ou vacina para a vaca louca, por isso, a melhor saída é prevenir que o animal desenvolva a proteína infecciosa, usando apenas as rações autorizadas. Consulte mais detalhes da prevenção nesta cartilha do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Quando acometido pela doença, o gado pode morrer entre duas semanas e seis meses após o início dos sintomas.
Humanos podem ser contaminados?
Existem duas doenças que têm relação com príon infeccioso. Assim como nos animais, os humanos podem desenvolver esse príon naturalmente – sendo acometidos por uma doença degenerativa chamada doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), que nada tem a ver com o mal da vaca louca. Ela atinge principalmente idosos.
Também é possível um humano adquirir esse príon infeccioso ao comer carne infectada, desenvolvendo a variante doença de Creutzfeldt-Jakob (vDCJ), também conhecida como “vaca louca”.
Não há casos registrados no Brasil, uma vez que também nunca houve comprovação de existência de contaminação de bovinos, apenas episódios de “origem atípica”, ou seja, em casos isolados.
O risco de humanos desenvolverem o mal da vaca louca existe no consumo de partes contaminadas do cérebro, da medula cervical, da tonsila ou de tecidos do fundo do olho de bovinos. Contudo, desde o final da década de 1990, o Ministério da Agricultura proibiu a comercialização destas partes para consumo, aponta o veterinário Enrico Ortolani, consultor do Globo Rural.
Ambas as doenças degenerativas são fatais e têm alguns sintomas em comum, como a perda de memória, perda visual, depressão e insônia. É possível que uma pessoa tenha adquirido o problema e ela não manifeste sintomas por anos.
Veja as diferenças:
DCJ e vDCJ: entenda as diferenças
Arte/g1
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Fonte: G1