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Mercado seria muito mais instável se Banco Central não fosse independente, diz Campos Neto após críticas de Lula

19, janeiro 2023
Presidente da República afirmou que independência do BC é ‘bobagem’. Campos Neto tentou suavizar declaração de Lula, dizendo que foi tirada de contexto. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (19) que o mercado seria muito mais instável se o Banco Central não fosse independente.
“Eu acho que o mercado seria muito mais volátil se o Banco Central não fosse independente”, disse.
A declaração foi dada após o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dizer em entrevista à jornalista da GloboNews Natuza Nery que a independência do BC é “bobagem”.
“Nesse país se brigou muito para ter um Banco Central independente, achando que ia melhorar o quê? Eu posso te dizer com a minha experiência, é uma bobagem achar que o presidente do Banco Central independente vai fazer mais do que fez o Banco Central quando o presidente era que indicava”, afirmou Lula na entrevista.
Campos Neto foi questionado sobre a declaração do presidente nesta quinta, ao palestrar para uma universidade americana, em Los Angeles.
Ao responder, ele disse que a declaração foi tirada de contexto, pois o que Lula teria dito é que a independência do BC não precisa estar na lei.
“Em algumas dessas entrevistas, muitas coisas são tiradas do contexto, porque se você olhar a entrevista, de um lado ele me elogiou, por outro lado, eu acho que ele quis dizer que você não precisa de independência na lei, você pode ter a independência sem a lei para fazer as coisas funcionarem”, respondeu Campos Neto.
“Se não houvesse a lei, você teria outro elemento de incerteza, que aumentaria a volatilidade das taxas de juros de longo prazo”, completou.
As taxas de juro de longo prazo são um importante sinalizador da confiança dos investidores na economia do Brasil. Quanto mais altas, mostram maior nível de desconfiança, além de indicarem que o país terá de pagar mais juros para financiar seu endividamento.
Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, são críticos contumazes do patamar atual da taxa básica de juros da economia, a Selic, que está em 13,75%.
Na semana passada, Haddad disse que o pacote fiscal por ele anunciado era uma “carta” para o Banco Central. Ou seja, deu o recado que quer que o pacote seja percebido pela autoridade monetária como uma sinalização de diminuição dos riscos fiscais, abrindo margem para o BC baixar os juros.
A definição da taxa de juros é feita pelo Comitê de Política Monetária do BC, formado por Campos Neto e diretores.
Ruído no mercado
As declarações de Lula e Haddad têm causado ruído no mercado e também entre empresários, conforme mostrou o colunista do g1 Valdo Cruz.
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O ministro Alexandre Padilha, de Relações Institucionais, teve que usar suas redes sociais nesta quinta-feira (19) para tentar acalmar o mercado.
Ele falou que “não há nenhuma pré-disposição por parte do governo de fazer qualquer mudança na relação com o Banco Central”.
“Como disse o presidente @LulaOficial, na sua experiência de governo, deu plena autonomia ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O presidente não vai mudar de postura agora, ainda mais com uma lei que estabelece regras nesse sentido”, escreveu Padilha.
“O governo sabe que a política monetária e o papel de análise da macroeconomia do Banco Central são de extrema importância. E, também por isso, a convivência respeitosa entre as instituições vai continuar sendo a ordem dessa gestão”, acrescentou o ministro das Relações Institucionais.
Autonomia do BC
A autonomia do Banco Central foi sancionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2021, após aprovação pelo Congresso Nacional.
Até então, havia um acordo informal de o presidente da República não interferir na autoridade monetária, o que foi descumprido em alguns momentos, como no governo Dilma Rousseff (PT).
A intenção da lei que deu autonomia formal ao BC foi blindar a instituição de pressões políticas, dando-lhe liberdade para condução da política monetária.
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Fonte: G1