Marco Temporal: políticos falam sobre o território indígena e projetam articulações em manifestação

Encontro acontece entre a Avenida Afonso Pena e a Rua 14 de julho neste sábado
Em meio aos debates políticos que tensionam as relações entre esquerda e direita em Mato Grosso do Sul, políticos projetaram alguns cenários eleitorais para 2024 e 2026.
As articulações aconteceram durante uma manifestação entre a Avenida Afonso Pena e a Rua 14 de julho, na região central de Campo Grande. Com movimentação tímida, a manifestação contou com alguns simpatizantes e acadêmicos, que se dividiram para panfletar contra o PL/490, junto aos carros que paravam ao sinal.
Para além das questões envolvendo o Marco Temporal, outra manifestação simultânea reivindicava taxas de juros menores junto ao Banco Central.

Com poucos adeptos, o encontro reuniu nomes como a vereadora municipal Luiza Ribeiro (PT) e Murilo Bluma, presidente municipal do PV, que falaram sobre os recentes conflitos agrários no Estado. Para a vereadora Luiza Ribeiro, apesar do abalo na relação entre os indígenas e o deputado estadual Zeca do PT, as coisas devem se acalmar em breve.
“O Zeca é um aliado dos trabalhadores do campo e inclusive dos indígenas neste momento de luta por seus territórios, neste momento há uma divergência na posição dele em alguns aspectos, mas ele governou o Estado e soube lidar muito bem com essas questões. Acredito que sobre o cenário político de momento, vemos um fortalecimento da articulação da esquerda em Mato Grosso do Sul e um arrefecimento desta direita radical, especialmente porque o Bolsonaro não está mais na presidência da república”, disse.
Ao Correio do Estado, a vereadora destacou que mesmo prestigiando o agronegócio, o atual presidente nunca irá deixar de cuidar das retomadas dos territórios dos povos indígenas e dos trabalhadores rurais, representados pelos vários movimentos sociais. “Na luta pela terra,por fazer uma agricultura que alimente as pessoas e que não seja apenas instrumento da economia e que a retomada dos povos indígenas”, frisou.
A vereadora comentou sobre o cenário local, e as recentes articulações em Campo Grande, como a ida da prefeita Adriane Lopes do Patriota ao Progressistas (PP).
“Com o Bolsonaro à frente, a direita obteve um crescimento aqui em Mato Grosso do Sul, só que o nosso Estado sempre obteve uma fatia do eleitorado muito importante de esquerda, tanto que elegemos o Zeca do PT, bancário, por dois mandatos, antes do Lula ser presidente do Brasil. Temos duas cadeiras na Câmara dos Deputados, sempre tivemos senadores do PT, disputamos muitas eleições em Campo Grande e em muitas chegamos, inclusive no segundo turno. Nas eleições municipais do próximo ano não será diferente, a Adriane irá disputar a eleição representando a extrema-direita e seguiremos com a centro-esquerda. Camila Jara, Gisele Marques, Pedro Kemp também é pré-candidato à Prefeitura de Campo Grande, e estamos amadurecendo a candidatura internamente”, destacou.
Em relação ao Senado, a vereadora falou sobre o nome de Vander Loubet, atualmente deputado federal, pelo mesmo partido. “No Senado, temos o Vander Loubet como um nome forte, com seis mandatos na Câmara dos Deputados, é uma pessoa que representa bem o pensamento do partido e tem uma capacidade de articulação com os outros setores”, finalizou.
Presidente do Partido Verde (PV) em Campo Grande, Murilo Bluma esteve na manifestação. O político disse reconhecer a força do agronegócio em Mato Grosso do Sul, entretanto acredita que a situação entre esquerda e direita tenha de ser contornada por meio do diálogo em Mato Grosso do Sul.
“O Brasil é um país gigantesco, mas a gente precisa aparecer para o diálogo. O agronegócio é muito importante para o Brasil, não podemos negar, mas existem movimentos sociais como o MST que também são representativos”, frisou. Questionado sobre uma projeção do cenário político de Mato Grosso do Sul, Bluma disse acreditar que a esquerda deve se posicionar mais firmemente em 2026.
“Particularmente acho que as eleições do ano passado mostraram a força da esquerda no nosso estado, o agronegócio é forte, mas o interior e uma parcela grande de Campo Grande quer repensar a participação popular, e isso nos agrega. Acho que temos grande chance de termos um nome forte da esquerda no Senado já nas próximas eleições gerais, precisamos nos mobilizar”, disse.
De acordo com o integrante da Federação Brasil da Esperança, Agamenon Rodrigues, um dos líderes da manifestação, o momento é de buscar um diálogo com o agronegócio sul-mato-grossense a fim de viabilizar alternativas tanto para os latifundiários, quanto para os povos indígenas.
“Estamos aqui em solidariedade aos povos indígenas de Mato Grosso do Sul que estão reivindicando suas terras, aliás, eles (indígenas) estão aqui desde 1500, portanto, as reivindicações são pertinentes”, disse ao Correio do Estado
Com o texto do projeto já aprovado na Câmara dos Deputados, a aprovação do PL/490 tende passar pelo Senado. “Sabemos do compromisso da Tereza Cristina com o agronegócio, mas acreditamos que ele (agronegócio) não tem em nosso estado.
A plantação tem sido boa, as terras produzem, a exportação é boa. Acho que até para pacificar o campo, a senadora Tereza Cristina poderia votar contra o Marco Temporal”, destacou.
De acordo com o manifestante, o voto contrário da senadora – que já disse ser à favor do Marco Temporal -, pacificaria o campo, porque, segundo ele, os empresários plantariam tranquilamente, e os indígenas iriam para suas terras, ao passo que os espaços destinados aos povos originários deveriam ser indenizados para “os fazendeiros não saírem no prejuízo”, finalizou.
Fonte: Correio do Estado