Publicidade

Republicanos e democratas chegam a acordo sobre teto da dívida, mas ninguém está feliz

29, maio 2023
WASHINGTON, DC - JULY 30: U.S. President Joe Biden speaks before a meeting with Cuban-American leaders and activists in the State Dining Room of the White House on July 30, 2021 in Washington, DC. The meeting comes as demonstrations in Cuba against its' communist government continue, with a large outcry for President Biden’s administration to help the people of Cuba further.   Anna Moneymaker/Getty Images/AFP (Photo by Anna Moneymaker / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)

Acordo precisa passar pela Câmara e pelo Senado, mas desagrada tanto seguidores de Trump e quanto democratas de esquerda

Na noite deste domingo (28), o presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, anunciou em coletiva de imprensa que ele e Kevin McCarthy, o líder republicano da maioria na Câmara, chegaram a um acordo sobre o aumento do Teto da Dívida do país. O entendimento agora precisa passar pela Câmara e pelo Senado, mas muitos republicanos mais à direita e democratas mais à esquerda estão descontentes com o texto. Os riscos são grandes: segundo o Departamento do Tesouro, no dia 5 de junho os EUA devem ficar sem dinheiro para honrar com seus compromissos, o que levaria a um calote com consequências econômicas severas e a nível global.

O Teto da Dívida é um artifício legal criado em 1917, nos EUA, para regular quanto dinheiro o governo federal pode pegar emprestado para arcar com os custos do Estado. De lá pra cá, esse teto já foi aumentado mais de 100 vezes, saindo dos US$ 11,5 bilhões originais para os US$ 31,4 trilhões atuais. De 1929 até hoje, todos os presidentes tiveram que aumentar a dívida para assegurar que o país não desse um calote, uma vez que os gastos do governo americano são superiores à arrecadação.

Apesar do Departamento do Tesouro ter dado o prazo do 1º de junho, e depois atualizado para 5 de junho, o país já atingiu o Teto da Dívida em janeiro. De lá pra cá, o governo estadunidense está sobrevivendo de manobras financeiras para conseguir arcar com todos os pagamentos.

Com uma Câmara dos Deputados controlada, ainda que por uma maioria apertada, pelo Partido Republicano, a Casa Branca teve que jogar todos os esforços na negociação com a oposição. O tema levou, inclusive, ao cancelamento de paradas de Joe Biden durante a viagem ao encontro do G7, no Japão.

O que estava na mesa nas negociações?

O objetivo dos republicanos era claro: cortar gastos, sobretudo em programas sociais como o Medicaid, programa público de saúde que foi expandido no governo Obama e reduziu o número de adultos sem plano de saúde de 46,5 milhões em 2010 para 26,7 milhões em 2016. Donald Trump, que disputará as primárias para tentar ser novamente candidato à presidência pelos republicanos, fez um apelo para que os membros do partido não aceitassem nenhuma proposta que não garantisse 100% das exigências.

Por outro lado, os democratas querem liberdade para gastar, principalmente às vésperas da eleição do ano que vem e com um presidente com baixa popularidade.

A proposta, que deve ser votada na Câmara na quarta-feira, aumenta o teto da dívida em US$ 4 trilhões até 2025, depois da eleição presidencial. Como contrapartida, o governo terá um limite de gastos que só não valerá para a área de Defesa e para gastos com veteranos do exército.

O projeto também cria exigências de trabalho para determinados grupos que recebem programas sociais, como Medicaid e Food Stamps (uma espécie de vale refeição do governo para pessoas de baixa renda). Por fim, o texto exige que verbas não gastas com o combate da covid-19 sejam devolvidas.

Recepção difícil

Após o anúncio do acordo, republicanos e democratas mais distantes do centro começaram a protestar. Nesta segunda (29), feriado de Memorial Day nos Estados Unidos, a mídia só quer saber se o plano vai, ou não, passar pela Câmara e pelo Senado, lembrando que o próprio Kevin McCarthy teve grandes dificuldades em se eleger como presidente da Câmara por conta de desentendimentos dentro do próprio Partido Republicano.

Em entrevista hoje à CNN, a deputada democrata Pramila Jayapal afirmou que não sabe se vai votar a favor proposta por preocupações com cortes de gastos em programas sociais. “É uma política péssima”, afirmou. E Jayapal não é uma deputada qualquer, mas sim a líder da Bancada Progressista na Câmara, a maior do Partido Democrata, que reúne os congressistas mais à esquerda e conta com 100 deputados e deputadas.

Perguntada pelo jornalista Jake Tapper se os democratas da ala moderada, inclusive na Casa Branca, deveriam se preocupar com o voto da Bancada Progressista, a deputada afirmou que sim.

Do lado republicano, nomes da Bancada da Liberdade, que conta com 45 deputados e reúne alguns dos parlamentares mais à direita do partido, alinhados com Donald Trump, também começaram a criticar publicamente o acordo. “Eu não vou apoiar este acordo, é um acordo ruim”, disse pelo twitter o deputado do Texas Chip Roy.

No entanto, Kevin McCarthy garantiu, em entrevista à FOX News, que 95% dos republicanos votarão pela aprovação do plano que, segundo ele, não dá nada aos democratas.

Biden, na coletiva de imprensa, não chegou a comemorar o acordo como uma grande vitória, mas afirmou que o importante era garantir que o país não desse um calote, e que nenhum dos dois lados tinha saído com tudo o que queria. “Essa é a responsabilidade de governar”, disse o presidente.

Edição: Nicolau Soares

Fonte: Brasil de Fato