Estudo sugere que G20 incentive pequenas empresas para elevar produtividade em países de renda baixa
Autores do estudo preveem ganhos no combate à pobreza e redução de danos ambientais com o desenvolvimento desses negócios
O desenvolvimento industrial é essencial para gerar oportunidades de emprego e reduzir a pobreza e, nos países de baixa e média renda é necessário qualificar as micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) no sentido de combater sua baixa produtividade devido à tecnologia desatualizada e práticas de gerenciamento inadequadas. O diagnóstico está em estudo recente elaborado por economistas para o G-20.
O documento diz que o sucesso econômico de muitos países do Leste Asiático pode ser atribuído ao seu foco estratégico no desenvolvimento de seus setores manufatureiros, seguidos pelos setores de serviços. Esse crescimento, diz o texto, foi acompanhado por níveis relativamente baixos de desigualdade e reduções significativas nos níveis de pobreza.
A China e vários países do Sudeste Asiático seguiram o mesmo padrão e experimentaram crescimento econômico por meio do fortalecimento de seus setores manufatureiros, mas isso não tem sido observado em nações com renda mais baixa.
Um ponto em comum entre os países mais pobres é que os setores primários nessas localidades geram uma alta parcela de empregos, com as pessoas de baixa renda tendendo a se envolver em atividades prejudiciais ao meio ambiente, como agricultura de corte e queima ou extração insustentável de recursos naturais.
Assim, o estudo defende que o desenvolvimento industrial também pode melhorar a sustentabilidade ambiental. O setor industrial alcançar esse crescimento verde, diz o estudo, sua capacidade de criação de empregos facilitará a alocação de mão-de-obra para longe dessas atividades prejudiciais ao meio ambiente e para meios de subsistência mais sustentáveis.
A sugestão é que os governos nacionais e as organizações de fomento devem apoiar as micro, pequenas e médias empresas na adoção de tecnologia avançada e know-how de gerenciamento. “Além disso, é importante encorajar as MPMEs a adotar tecnologias de economia de energia para melhorar sua produtividade e por razões ambientais”, dizem os autores.
Duas categorias
Os especialistas dizem que o desafio de desenvolver políticas para MPMEs está em sua diversidade. Essas empresas são normalmente divididas em duas categorias. A primeira é composta por empresas com potencial de crescimento, mas que possuem limitações por fatores como infraestrutura e instituições precárias, acesso limitado a crédito e falta de acesso a tecnologia e conhecimento avançados.
A segunda categoria inclui empresas estagnadas que são criadas e administradas por necessidade e não por oportunidade ou escolha. Um exemplo típico são os microempreendedores que não têm outra oportunidade de geração de renda, sendo a única opção operar um pequeno negócio no setor informal. “É improvável que empresas estagnadas invistam em seus negócios ou adotem tecnologia avançada, preferindo manter o status quo e obter lucro acima do nível de subsistência”, comentam os autores.
Segundo o texto, estudos recentes observaram a coexistência de diferentes tipos de MPMEs na adoção de tecnologias digitais. Essa coexistência torna difícil chegar a um consenso sobre quais podem ser as políticas mais adequadas, uma vez que não existe uma solução única para todos.
“Portanto, a variedade existente deve ser considerada pelos formuladores de políticas em seu caminho para abordar esse assunto. Embora os países desenvolvidos também enfrentem esse desafio, isso é especialmente verdadeiro nos países de baixa e média renda, que têm uma alta participação de MPMEs e precisam incentivar seu crescimento”.
Papel do G20
O estudo diz que há várias razões para o G20 considerar a questão crucial do desenvolvimento industrial nos países de baixa e média renda. A primeira razão é humanitária. Em 2021, pelo menos 684 milhões de pessoas foram consideradas extremamente pobres. Além disso, mais de 6% da força de trabalho global estava desempregada no mesmo ano. Portanto, oferecer oportunidades de emprego aos pobres é a melhor opção para aliviar a pobreza de forma sustentável.
A segunda razão é a presença de vários efeitos transfronteiriços. O desemprego e a pobreza podem criar um ambiente de insatisfação e frustração, levando à agitação social e política, que pode desestabilizar regiões inteiras.
Da mesma forma, a incapacidade de criar empregos suficientes nos países de baixa e média renda pode levar a força de trabalho desempregada a migrar para outros países. “Isso pode pressionar os sistemas sociais e econômicos dos países receptores e pode ter implicações políticas e sociais significativas”, alertam os autores.
Segundo o texto, os danos ambientais são outro efeito transfronteiriço. A poluição e a degradação ambiental em um país podem afetar negativamente os países vizinhos, e as mudanças climáticas afetarão todos os países do mundo.
Por fim, a falha de mercado no desenvolvimento industrial pode ocorrer por vários motivos, como externalidades, assimetrias de informação e provisão de bens públicos. Nesses casos, a intervenção pública é necessária para corrigir a falha do mercado.
“O G20, como um fórum internacional das maiores economias avançadas e emergentes do mundo, pode apoiar proativamente o desenvolvimento industrial ao mitigar falhas de mercado e promover o crescimento de MPMEs”, conclui o estudo.
Recomendações
O estudo recomenda fornecer treinamento gerencial para MPMEs em clusters industriais para facilitar o crescimento de tais organizações e o desenvolvimento industrial nos LMICs.
Esse treinamento ajudaria tanto as empresas com potencial de crescimento como estagnadas nesses países, com alguns estudos atestando que a adoção de práticas avançadas de gerenciamento pode aumentar sua produtividade.
Oferecer o treinamento gerencial também pode ajudar a selecionar empresas com potencial de crescimento. Embora seja difícil identificar essas empresas com base em características observáveis, algoritmos de aprendizado ou opinião especializada, o treinamento pode ser usado para rastrear organizações, diz o estudo.
“Uma vez identificadas as empresas promissoras, recursos como empréstimos e subsídios para pesquisa e desenvolvimento podem ser fornecidos.”
Outra sugestão é o direcionamento de clusters industriais, que ajudaria a maximizar o impacto do treinamento e promover o desenvolvimento industrial de forma mais eficaz. “No entanto, essa segmentação é desafiadora, assim como identificar empresas promissoras. Portanto, os autores recomendam fornecer treinamento para clusters existentes em geral. Isso pode ajudar os formuladores de políticas a selecionar clusters promissores observando a taxa de participação, as atitudes durante o treinamento e o desempenho após o treinamento.”
Da mesma forma, também é importante fornecer treinamento técnico para trabalhadores em potencial, incluindo treinamento de requalificação.
“Se o crescimento de aglomerados industriais for facilitado pelo treinamento gerencial, os trabalhadores podem ser um recurso escasso. As empresas e os fornecedores de recursos humanos podem cooperar no desenvolvimento de habilidades específicas demandadas no cluster”, diz o estudo.
Isso pode ser feito, segundo os autores, por meio de instituições de educação e formação técnica e profissional para formar a juventude. “Ao mesmo tempo, um programa de requalificação é importante para esse fim para facilitar a transição do setor primário para o setor industrial.”
Fonte: InfoMoney